Mês da Filantropia Negra é marcado por conversas sobre como combater o racismo estrutural

Por Instituto Beja, setembro 2, 2022
Mês da Filantropia Negra é marcado por conversas sobre como combater o racismo estrutural

O mês de agosto foi marcado por eventos e iniciativas que destacaram a importância da luta por justiça social e igualdade e também como combater o racismo estrutural. A segunda edição do evento “Mês da Filantropia Negra” aconteceu dia 4 de agosto e teve o tema “Força – A urgência do agora! Do sonho à ação”. Organizado pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), maior associação de investidores sociais privados para discutir qual o papel das empresas nessa temática.

Para Cássio França, secretário-geral do GIFE, organizações do terceiro setor trabalham para buscar soluções que respondam aos desafios e demandas sociais. “Temos o compromisso público de contribuir com a promoção da justiça social no Brasil. Esse processo só pode ser devidamente exercido se o Investimento Social Privado compreender que a justiça social no país passa necessariamente pelo protagonismo político de organizações e lideranças negras”, diz França.

“Existe um movimento já organizado fora do Brasil de filantropia negra, investimento social privado. Quando a gente traz esse conceito de fora do Brasil, é importante destacar que a filantropia negra nos Estados Unidos, onde surgiu esse movimento, é promovida por agentes, filântropos negros que atuam neste campo do investimento social privado. Não é uma filantropia voltada para a agenda racial.
Aqui no Brasil, mesmo com os movimentos que permitiram mobilidade social, não temos filântropos negros – negros capitalizados que possam fazer a gestão de fundos. Assim, acaba parecendo que é uma filantropia voltada para a causa racial. A gente tá tão atrás que não temos nem pessoas negras, ou temos muito poucas, em cargo de direção na filantropia branca.

Então, é preciso tomar um cuidado com essas contradições, mas o benefício é que pelo menos essa agenda está em debate. Não devemos ter a sensação de que existe uma filantropia negra organizada no Brasil. O que temos são organizações brancas que estão colocando uma certa prioridade na questão racial. O papel desse movimento de filantropia negra aparece também nesse sentido: o quanto o terceiro setor, a filantropia precisam jogar mais luz em cima das questões raciais”, afirma o conselheiro do Instituto Beja e coordenador de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum, Márcio Black.

Conselheiro do Instituto Beja e coordenador de projetos do Instituto de Referência Negra Peregum, Márcio Black

Dica de programação para sábado (3/9):
Para mergulhar no debate racial, a boa pedida para este sábado (3/9) é o congresso “Rio, uma cidade antirracista”, que está em sua primeira edição. O evento acontece até 3 de setembro, no Museu do Amanhã, no Centro do Rio. O congresso contará com painéis e debates focados em cidades e antirracismo, com as temáticas direito à cidade, meio ambiente, segurança e políticas públicas.
Mais informações sobre o evento aqui.

Saiba mais sobre o Black Philantropy Month:
O evento mobiliza cerca de 17 milhões de pessoas em iniciativas ao redor do mundo, em mais de 40 países. Nas edições de 2020 e 2021, contou com mais de 1.500 participantes de 30 países ao longo de todo o mês, além do engajamento de mais de 1 milhão de pessoas via mídias sociais.

O Movimento da Filantropia Negra surgiu em 2011 nos Estados Unidos. Hoje, está presente em países africanos e no Brasil. No entanto, irmandades e confrarias existem no país desde a época em que a escravidão ainda era legalizada. Antes da Lei Áurea, que proibiu a escravidão no Brasil em 1888, essas organizações compravam a liberdade de escravos. A luta por justiça social e igualdade continua até hoje.

Dados ainda mostram desigualdades sociais enfrentadas pelos negros

Quando olhamos para dados envolvendo a população negra, temos que a polícia que mais mata no mundo é também a que mais mata pretos. Em 2020, 78,9% das 6.416 pessoas mortas em intervenções policiais eram negras: 76,2% jovens e 98,4% do sexo masculino. A outra face dessa moeda é que policiais negros são também os que mais morrem: 62,7% contra 34,5% de profissionais brancos. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021.

As disparidades também atingem a população negra quando o assunto é trabalho. Segundo a Pesquisa Racismo no Brasil, realizada pelo Instituto Locomotiva a partir da PNAD – IBGE em 2021, pretos e pardos representam 33% dos cerca de 15 milhões de desempregados. Homens e mulheres negros/as ganham, respectivamente, 46% e 49% a menos do que brancos/as com formação educacional equivalente.

Conheça alguns fundos filantrópicos liderados por pessoas negras no Brasil:

Fundo Agbara
Nascido em 2020, é o primeiro fundo filantrópico voltado para mulheres negras do Brasil. Sua missão é promover acesso a direitos econômicos por meio da potencialização do maior número de iniciativas de mulheres negras, viabilizando independência financeira e emocional. Mais de 6 mil mulheres foram impactadas pelo fundo e mais de 108 mil aportes financeiros foram viabilizados.
Saiba mais: https://fundoagbara.org.br

Fundo Baobá
Primeiro fundo exclusivo para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Criado em 2011, o Fundo Baobá trabalha fortalecendo e investindo, prioritariamente por meio de editais, em organizações e lideranças negras comprometidas com o enfrentamento ao racismo, a promoção da equidade racial e da justiça social.
Saiba mais: https://baoba.org.br/